Fui caboclo do pesado
Levei sempre vida dura
Já fiz serviço dobrado
Pelo óleo da fritura
De roer osso na vida
Gastei minha dentadura
De tanto apertar o cinto
Calejei minha cintura
Não tem negócio da China
Pra se sair da pendura
Ou é a luta do mundo
Ou a paz na sepultura
Pra se viver do trabalho
É demais a concorrência
É carteira pra carvalho
E carta de referência
Quanto mais ganha mais gasta
Na rabeira da carência
Trabalhar pra quem é pobre
É gostar de penitência
O trabalho da cansaço
E suor de experiência
Trabalhar por trabalhar
É relaxar a competência
De trabalhar ninguém morre
Nem de fome quem não queira
Faça sol ou faça chuva
Mundo velho é sem porteira
O meu rosário de queixa
Eu jogarei na corredeira
Qualquer barranco é um porto
Qualquer pedra é uma cadeira
Deus me deu o lar no mundo
E a saúde como esteira
Minha mãe me deu a luz
E a vida sem canseira
No meu sistema de vida
Muita gente me critica
O futuro é a morte
Pra te ninguém fica
Três punhadinhos de terra
Numa cova nada explica
Da minha filosofia
Eu só vou dar uma dica
Eu não vou salvar o mundo
Dessa gente que complica
Nem morrer de trabalhar
Pra deixar viúva rica
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