O meu vizinho do lado
Se matou de solidão.
Abriu o gás, o coitado,
O último gás do bujão.
Porque ninguém o queria,
Ninguém lhe dava atenção.
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração.
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação.
Ah! Quanta gente sozinha,
Que a gente mal adivinha.
Gente sem vez para amar,
Gente sem mão para dar,
Gente que basta um olhar, quase nada...
Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão.
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada.
Eu sempre o cumprimentava
Porque parecia bom.
Um homem por trás dos óculos,
Como diria Drummond.
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver.
Embaixo, assinado Alfredo,
Mas ninguém sabe de quê.
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