Me conhecem por bom guitarreiro
Desde Lavras até Encruzilhada
Tenho fama e um violão Tonante
Que do sol, tem a tampa empenada.
Pego a tempo, lá fora, uns potro
Numa estância pra lá dos Engenho.
Volta e meia me largo pro povo
Num florão de gateado que tenho.
Toco uns baile nos fim de semana
Quando prendem o grito pra nós...
Largo eu, num violão dedilhado
E o Maneco na gaita, e na voz...
Dá de fato, uns baile bem bueno
Onde as moça se enfeitam pra ir...
E a peonada que vem de bem longe
Gasta plata, pra se adevertir ...
Dia desses num baile que andei
Conheci uma morena trigueira.
Eu toquei uma vaneira pra ela
Que de longe me olhava faceira.
Quando foi já no meio do baile
Que um guri não froxava a morena
Eu falei pro Maneco da gaita:
Pára o baile e declama um poema
Quando eu vim da minha terra
Muita guria chorou...
As que não vieram de atrás
Foi porque o pai não deixou...
Meu Mouro pelou a anca
Esse fato me preocupa
De tanto levar prenda linda
Bem sentada na garupa
Quando eu abro minha gaita
Toco baile a noite inteira...
Sou quase um Nelson Cardoso
Com Gaucho da fronteira.
Foi por nada, um santo remédio
E a morena sentou bem ligeiro
E eu desci já dizendo pra ela:
Na outra marca, sô eu o primeiro!
E o Maneco depois do poema
Abriu bem a cordeona e o peito
E tocou, umas milonga do Gildo
Que apertei a morena com jeito.
Cosa linda era nós dois na sala
Num trancão pra durar toda a vida
E eu falei pra morena: -Me espera !
Que esse baile termina em seguida.
Mas foi só eu voltar pro violão
E tiraram a morena pra dança
Era polca, valsinha e vaneira
E eu aos pouco, perdendo a esperança.
Cosa braba é tocar um baile inteiro
Sem campear um namoro que seja !
Quando um toca, alguém se adeverte
Sobra pouco, pra quem mais forceja.
Mas então o que e bom se termina
E a morena, eu bem vi, foi embora...
Foi comigo, num pingo gateado
Pra escutar minhas vaneira lá fora...