[Intro]
Me batizaram milonga, pampeana por sobrenome
Que céu a dentro se some e campo a fora se alonga
Cadência que se prolonga sem data de nascimento
Das catedrais do relento, pajé feiticeiro monge
Meu som foi parido longe, nos alambrados do vento
Me escutaram San Martín, Osório, Bento, Rivera
Mas é a pampeana bandeira que hasteio dentro de mim
Ânsia ameríndia, clarim de um hemisfério que berra
Ao som da enúbia, de guerra, cordiona e bumbo legüero
Nasci minuano e pampeiro num bordoneio de terra
De tanto andar em patriadas, nas três yestas campesinas
Trago manojos de crinas, de entreveros e potreadas
E nas cordas afinadas da guitarra chimarrona
Enredei muita sinhá-dona com promessas de namoro
Transando catres de couro com prima, quarta e bordona
De cada estrela que apago, guardo o último lampejo
Nesse gauderiar andejo de cruzar de pago em pago
E assim nesse trago-a-trago de payadas e repontes
Eu sempre retorno às fontes e a noite sempre me agarra
Bordoneando uma guitarra, presa entre dois horizontes